Ao valorizar a livre expressão das subjetividades, o hip-hop oferece espaço às narrativas de vidas inscritas em campos onde a violência transita. Desse modo, ela pode possibilitar a mudança de rotas de vidas e de novos movimentos e posicionamentos subjetivos e políticos diante do mundo. Os discursos que circulam na cultura hip-hop indicam modos de reconhecimento mútuo e pertencimento dos jovens, atribuindo novos valores e posições no laço social. Ou seja, este modo de circulação da palavra pode romper com a lógica de humilhação social sustentada por um discurso provindo de um modelo de produção de exclusão socioeconômica.
Nessas camadas interligadas, a arte, que tem como uma das formas de expressão a cultura hip-hop, ela manifesta como dispositivo potente de cuidado e possibilidade de ancoragem dos sujeitos em situações sociais críticas. Ela se apresenta como estratégia de enfrentamento às desigualdades sociais e fortalecimento dos laços sociais, contribuindo para manter os jovens vivos e criativos. A arte permite que os sujeitos criem e compartilhem seus próprios olhares sobre si e sobre o mundo, não se limitando exclusivamente à subsunção ao olhar externo e, em grande parte dos casos, discriminatório - seja ele o jurídico, o midiático, o psíquico ou o econômico.
A arte emerge também como um importante ponto de ancoragem para o sujeito quando se articula com o cotidiano, mediando a aproximação entre as pessoas, com a abertura para a historicização e a simbolização; ela requer a criação de estratégias de enfrentamento das violações de direitos a partir da negociação e da criatividade.
É neste campo de lutas a importância da cultura hip-hop na formação dos jovens periféricos brasileiros, entendida como estratégia para mantê-los vivos e criativos na busca por novas formas de se posicionar no mundo. Há um apelo universal desta cultura, relacionado ao seu hibridismo, dado que inventa uma forma de comunicação entre culturas distintas por meio da criação de músicas de resistência e de protesto que clamam por liberdade e pela garantia dos direitos dos jovens. Uma especificidade do rap no Brasil é a menção aos quilombos, que atualiza o desejo de liberdade e de reconhecimento que hoje se traduz pelo caráter crítico-destrutivo de suas letras e de afirmação étnico-social, denunciando a desigualdade e exigindo tudo aquilo que vem sendo negado ao povo brasileiro, particularmente aos afrodescendentes.
Deste cenário nasce a primeira Escola de Hip Hop do Brasil onde tem como objetivo reconhecer, valorizar e qualificar a cultura hip hop gaúcha através de ações que oportunizem a juventude negra e periférica, mulheres, população LGBTQIA+ e quilombolas um espaço democrático e que valorize a diversidade e democratização cultural.
Pela primeira vez na história, a capital gaúcha terá uma instituição voltada a desenvolver atividades de inclusão e formação através dos elementos grafite, break, MC e DJ.
O espaço permanente tem o objetivo de desenvolver atividades de formação, inclusão e conexão através da cultura de rua, de forma a ampliar o público, difundir conhecimentos e proporcionar experiências de expressão social, artística e política por meio dos quatro elementos que englobam o hip hop – grafite, break, MC e DJ.
Por conta da pandemia, as atividades de implementação da Escola de Hip Hop terá transmissão ao vivo pelo Facebook da Alvo Cultural (www.facebook.com/alvocultural).
“Sabemos que a música, a arte, a dança geram oportunidades para crianças e jovens. E a Escola de Hip Hop vem, exatamente, para isso, para gerar oportunidades gratuitas, promover eventos inclusivos, trazer debates sobre temas políticos e sociais tão presentes nesse universo”, explica Jeferson Fidélix, coordenador da iniciativa.
Para os meses de junho e julho, estão previstos shows de rap, encontro de graffiti arte, campeonato de break solo e hip hop dance, valendo R$ 3.000,00 em premiação, além de Batalha de Rima, com R$ 2.000,00 em prêmios e quinze vagas gratuitas para o Curso de Formação de DJs. Todas as atividades serão realizadas conforme as medidas de segurança e prevenção da Covid-19.
Para se inscrever nos projetos oferecidos pela Escola de Hip Hop, basta acessar o site da instituição (www.escoladehiphop.com) e ter idade a partir de 14 anos. As atividades são todas gratuitas e para as vagas nos campeonatos de dança, Batalha de MCs e o Curso de DJ serão garantidas cotas para LGBTQIA+, negros, indígenas, mulheres e portadores de deficiência. Mais informações pelo e-mail contato@alvovirtual.com ou via WhatsApp (51) 99481-5324.
A implementação da Escola de Hip Hop foi financiada através do Edital Criação e Formação Diversidade das Culturas, uma parceria entre a Secretaria de Estado da Cultura (Sedac) e a Fundação Marcopolo que conta com recursos da Lei Aldir Blanc (14.017/20), do Governo Federal. A execução é da Fidélix Arte Educação em parceria com a Alvo Cultural.
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